Jornalista britânico assassinado no Vale do Javari é velado em Niterói
Viúva de Phillips, Alessandra Sampaio, agradeceu aos indígenas que ajudaram nas buscas, à imprensa e a "todas as pessoas que se solidarizaram com Dom, Bruno" e suas famílias
O jornalista britânico Dom Phillips, assassinado enquanto trabalhava na Amazônia, foi velado neste domingo (26) por familiares e amigos no Brasil, país "que ele amava".
"Hoje Dom será cremado no país que amava, seu lar escolhido, Brasil", disse a viúva de Phillips, a brasileira Alessandra Sampaio, chorando após uma cerimônia reservada para amigos e familiares no cemitério Parque da Colina, em Niterói, perto do Rio de Janeiro
Phillips, 57 anos, foi morto a tiros no dia 5 de junho junto com o indigenista Bruno Pereira, 41, quando voltavam de uma expedição no Vale do Javari, parte remota da floresta amazônica considerada perigosa pela presença de traficantes de drogas, pesca e extração de ouro ilegais.
Sampaio agradeceu aos indígenas que ajudaram nas buscas, à imprensa e a "todas as pessoas que se solidarizaram com Dom, Bruno" e suas famílias.
"Seguiremos atentos a todos os desdobramentos das investigações, exigindo justiça", afirmou.
"Renovamos nossa luta para que a nossa dor e a da família do Bruno Pereira não se repita, como também as das famílias de outros jornalistas e defensores do meio ambiente, que seguem em risco", concluiu Sampaio, abraçando os membros de sua família e a de Phillips, vestidos de preto.
O funeral de Pereira foi realizado na sexta-feira passada em seu estado natal Pernambuco, cercado de emocionantes rituais indígenas. Esses povos o consideravam um “irmão” por seu trabalho em defesa de seus territórios.
Apaixonado pela Amazônia
Phillips morava no Brasil há 15 anos. Além de ser um colaborador regular do The Guardian, ele trabalhou para o The New York Times, The Washington Post e o Financial Times.
Apaixonado pela Amazônia, sobre a qual escreveu dezenas de reportagens, Phillips esteve na região do Vale do Javari, orientado por Pereira, para trabalhar em um livro sobre conservação ambiental e desenvolvimento local, com apoio da Fundação Alicia Patterson, nos Estados Unidos.
Pereira, que trabalhou por muitos anos na Funai, estava a serviço de organizações indígenas locais, trabalhando em um projeto para ajudá-las a denunciar invasões de suas terras por madeireiros ilegais, garimpeiros e caçadores.
Por esse trabalho, Pereira recebeu ameaças de morte.
Três suspeitos foram presos no crime, incluindo um pescador que confessou ter enterrado os corpos e levado os investigadores ao local, mais de 10 dias depois que Phillips e Pereira foram vistos pela última vez a bordo de uma lancha.
Os restos mortais foram identificados e entregues às famílias na última quinta-feira.
Nesse mesmo dia, a Polícia Civil de São Paulo anunciou a prisão de um quarto suspeito que se apresentou às autoridades dizendo ter participado do crime. Mas a Polícia Federal, que lidera as investigações, afirmou que ele foi liberado porque sua versão do ocorrido era "pouco crível e desconexa" do que havia sido investigado até então.
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